Livro: Vermelho Amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós.
Ano: 2011 / Páginas: 75
Editora: Cosac Naify
Fora esta reflexão o livro traz sentenças lindas, poéticas, de uma beleza fora do comum, como estas:
"Inventei-me mais inverdades para vencer o dia amanhecendo sob névoa. Preencher um dia é demasiadamente penoso, se não me ocupo de mentiras." (p.7)
"Há que experimentar o prazer para, só depois, bem suportar a dor. Vim ao mundo molhado pelo desenlace. A dor do parto é também de quem nasce. Todo parto decreta um pesaroso abandono. Nascer é afastar-se - em lágrimas - do paraíso, é condenar-se à liberdade." (p. 8)
"Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que, o mundo, eu não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi os companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco - da segunda classe - sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences: uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino."
Ler Vermelho Amargo foi uma grata surpresa. Um livro curto carregado de sentimento. Carregado de lindas linhas, de poesia, de dor, uma dor sofrida, que de tão sofrida vira amor.