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Livro: Vermelho Amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós. 
Ano: 2011  / Páginas: 75 
Editora: Cosac Naify


Vermelho Amargo é um livro recheado de lirismo, quase uma poesia em linhas retas, com metáforas e metalinguagens, um livro não de continuações, mas de reticencias. Traz este livro um relato da própria infância do autor, vivida de forma dolorosa pela perda prematura da mãe, pela falta de amor ecarinho presente no lar depois disto, do surgimento de uma madrasta e de como cada irmão num total de cinco viveu seus sentimentos em decorrência desta fato que nenhuma criança merece ter como sina. Cada qual lida de uma forma com a perda, e aos olhos da criança "Bartolomeu" tudo era muito difícil de digerir. Por várias vezes surge no livro a questão do tomate: o autor brinca muito com essa palavra. O que é o tomate? É a forma de retratar que a madrasta tanto o fazia que só o que se pode enxergar é isto nela e mais nada, que nada além de tomate poderia se esperar da madrasta, nem um tipo de carinho, amor, cumplicidade. Se a ideia do pai era arranjar uma substituta para a mãe que se fora, ele o fizera muito mal, segundo as entrelinhas do autor. O tomate pode ser também o percalço pelo qual a família passa, o sofrimento sempre ali presente, vermelho e maduro, alimento cansado de se apresentar à mesa todo dia, causava repulsa.



Fora esta reflexão o livro traz sentenças lindas, poéticas, de uma beleza fora do comum, como estas:

"Inventei-me mais inverdades para vencer o dia amanhecendo sob névoa. Preencher um dia é demasiadamente penoso, se não me ocupo de mentiras." (p.7)


"Há que experimentar o prazer para, só depois, bem suportar a dor. Vim ao mundo molhado pelo desenlace. A dor do parto é também de quem nasce. Todo parto decreta um pesaroso abandono. Nascer é afastar-se - em lágrimas - do paraíso, é condenar-se à liberdade." (p. 8)


"Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que, o mundo, eu não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi os companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco - da segunda classe - sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences: uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino."


Ler Vermelho Amargo foi uma grata surpresa. Um livro curto carregado de sentimento. Carregado de lindas linhas, de poesia, de dor, uma dor sofrida, que de tão sofrida vira amor.

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