Últimos posts


Livro: Entre irmãs
 Autor (a): Frances de Pontes Peebles
Editora: Arqueiro / Gênero: Romance 
Páginas: 576 / Ano: 2017
Skoob / Amazon / Submarino


        Resenha elaborada pela colaboradora Ana Paula dos Santos

         Entre Irmãs, de Frances de Pontes Peebles, conta as histórias de Emília e Luzia, duas irmãs que acabam separadas depois que Taquaritinga do Norte, sua cidade, é invadida por um bando de cangaceiros. Muito mais do que isso, descreve vidas sofridas marcadas por uma época, por um lugar, por tradições, pelo clima, por circunstâncias e que, apesar de tudo, não deixam de alimentar seus sonhos e suas esperanças de uma vida melhor.




         O livro é dividido de forma bastante interessante. Os capítulos são separados em “Emília” e “Luzia”, e relatam os acontecimentos dentro de um período de tempo. Mesmo havendo esta divisão, a narrativa é bastante clara, e os fatos não ficam soltos.

         As irmãs são jovens muito diferentes. Emília é sonhadora, tem uma visão romântica do mundo, anseia por uma vida melhor na qual sua casa seja azulejada, e ela, uma dama. Sente uma certa inveja da chamada liberdade que Luzia obteve desde que ficou aleijada, mas ao mesmo tempo gostaria de ter a velha Luzia de volta, já que sente que a irmã não se permite ser mais leve.

         ... Sempre desejou ter uma irmã normal, que gostasse de vestidos elegantes, de revistas, de maquiagem e de dançar. Que quisesse ir embora de Taquaritinga tanto quanto ela. Ver Luzia dançando assim desajeitada, diante do espelho, só confirmava a esperança que sempre teve – de que, por baixo do braço aleijado e da cara séria, sua irmã era, afinal, uma moça como outra qualquer”.

         Luzia não aparenta ser sonhadora. Sofreu uma grande queda de uma árvore quando criança, e a fratura mal curada a deixou aleijada. As crianças a apelidaram de Vitrola por causa do braço, e todos a viam como uma mulher sem perspectivas de casamento (talvez o maior objetivo para as mulheres da época). Quando os cangaceiros invadem a cidade onde moram, Antônio, mais conhecido por Carcará, líder do bando, decide levá-la com eles, e é então que as irmãs se separam, e suas vidas se transformam.

         _Ei, você - disse o Carcará, interrompendo as lembranças de Emília. – Venha cá, por favor.

         A moça assentiu. O xale nos seus ombros pesava por causa da chuva.
_Vá lá dentro e faça a mala dela – disse ele, bem devagar, como se tentasse convencer uma criança pequena. – Não ponha muita coisa. Só o que dê para carregar.
[...] _Por que está aqui? – Perguntou ela. – Onde se meteu?
         _Estava no quartinho dos santos – respondeu Luzia. – Rezando.
         _Ele mandou eu arrumar as suas coisas – disse ela.
         Luzia assentiu.

         Emília se casa com Degas Coelho, um estudante da capital, Recife, que passava férias na fazenda do Coronel Pereira, onde ela trabalhava como costureira. Luzia vai, aos poucos, se integrando ao bando dos cangaceiros.

         A narrativa é bastante descritiva, consegue fazer com que o leitor sinta as dificuldades que cada uma das personagens enfrenta. Apesar de Emília também viver momentos complicados após sua chegada à capital pernambucana com a sogra – uma mulher um tanto arrogante e sistemática -, para ser aceita na sua nova casa e na sociedade e com os difíceis e marcantes momentos políticos que enfrentam, foram os capítulos de Luzia pelos quais eu mais ansiei.

         _Você deve estar achando que só porque ganhou um concurso pode falar comigo neste tom. Que pode se pavonear por aí afora com esses seus vestidos idiotas. Que pode fazer insinuações a respeito de meu filho. Mas não seja tão audaciosa assim. Aquelas mulheres das famílias novas que estavam ali riem de você. Pelas costas. Acham pitoresca essa sua mania de querer parecer uma dama. Acham engraçado. Eu sei. Já ouvi elas dizerem. E as criadas também me contam. Não sabe que elas ouvem as conversas das patroas? Não sabem que contam tudo o que ouvem umas para as outras? Que as histórias sobre a esposa de Degas Coelho se espalham de casa em casa? Não se iluda. Deixe-me dizer as coisas de um jeito que você vai entender, já que é lá do sertão: sabe o que acontece quando uma formiga cria asas? Ela fica toda cheia de si. Sai voando por todo lado como um passarinho. Mas vai ser sempre um inseto. E você vai ser sempre uma costureira”.

         Mesmo com a separação, essas queridas irmãs conseguem saber uma da outra através dos jornais, já que uma entrou para uma família tradicional, e a outra para o cangaço, e ambas guardam recortes das reportagens nas quais a irmã é mencionada.


         É impossível ler o livro e não pensar nas condições de vida na caatinga, não sentir o sol escaldante em nossa própria pele, as bolhas e as feridas das caminhadas em nossos próprios pés, e também as angústias de um povo que convive com a seca. É uma leitura tocante e que nos leva a refletir.

         Todo ano, nos meses secos, a caatinga se tornava avarenta e, quase sempre, chegava a ser cruel. Jogava-lhes areia nos olhos, queimava-lhes a pele com o sol, obrigava-os a sair à cata de água. Justo quando já estavam de procurar, ela os presenteava com uma fonte escondida ou um riacho de águas claras. Dava-lhes cabras e tatus mansinhos, com bastante carne. Mas só o fazia se estivessem de olhos bem abertos. Como bons criados, os moradores da caatinga aprendiam a escutar o patrão, a antecipar as suas mudanças de humor, a saber que uma carreira de formigas fora do formigueiro significava chuva; que uma gameleira com folhas verdes, crescendo na fenda de um rochedo, indicava a presença de uma fonte; que grandes cupinzeiros eram sinais de seca e de sede. Se aprendessem a interpretar corretamente esse patrão cruel durante os meses de estiagem, sobreviveriam para lidar com um amo bem mais generoso assim que as chuvas chegassem”.

O livro ganhou adaptação para o cinema. Abaixo segue o trailer:


Sinopse:
Ganhador do Prêmio de Ficção do Friends of American Writers e agora adaptado para o cinema, Entre irmãs é uma história de amor e lealdade, um romance arrebatador sobre a saga de uma família e de um país em transição.


Nos anos 1920, as órfãs Emília e Luzia são as melhores costureiras de Taquaritinga do Norte, uma pequena cidade de Pernambuco. Fora isso, não podiam ser mais diferentes.

Morena e bonita, Emília é uma sonhadora que quer escapar da vida no interior e ter um casamento honrado. Já Luzia, depois de um acidente na infância que a deixou com o braço deformado, passou a ser tratada pelos vizinhos como uma mulher que não serve para se casar e, portanto, inútil.

Um dia, chega a Taquaritinga um bando de cangaceiros liderados por Carcará, um homem brutal que, como a ave da caatinga, arranca os olhos de suas presas. Impressionado com a franqueza e a inteligência de Luzia, ele a leva para ser a costureira de seu bando.

Após perder a irmã, a pessoa mais importante de sua vida, Emília se casa e vai para o Recife. Ali, em meio à revolução que leva Getúlio Vargas ao poder, ela descobre que Luzia ainda está viva e é agora uma das líderes do bando de Carcará.

Sem saber em que Luzia se transformou após tantos anos vagando por aquela terra escaldante e tão impiedosa quanto os cangaceiros, Emília precisa aprender algo que nunca lhe foi ensinado nas aulas de costura: como alinhavar o fio capaz de uni-las novamente.

***
“Riquíssimo em detalhes.” – Publishers Weekly

“Uma saga histórica cativante. A verdadeira beleza do romance de Frances de Pontes Peebles está na relação entre Emília e Luzia, duas mulheres fortes que permanecem ligadas e dedicadas uma à outra, apesar do diferente rumo que suas vidas tomaram.” – Library Journal

Emília não conseguia imaginar vidas inteiras sendo determinadas por coisas tão grosseiras e vulneráveis como corpos, ou coisas tão impalpáveis como almas. Não podia se convencer de que o seu destino, ou o de Luzia, já estivesse traçado desde o começo. Estava acostumada a escolher. Como toda costureira. Até o mais grosseiro e sem graça dos morins podia ser tingido, cortado e costurado para se criar um vestido elegante, desde que se fizessem as escolhas certas. Escolhas também podiam transformar a mais linda das sedas numa catástrofe, informe e repuxada. Como as pessoas, cada tecido tem as suas próprias vantagens e limitações. Alguns são finos e lindos, mas frágeis, que se rasgam ao mínimo picote. Outros têm a trama tão cerrada que nem dá para ver as fibras. Há ainda os que são grossos, encorpados, chegando até a arranhar. Impossível mudar o caráter de um tecido. Ele pode ser cortado, rasgado, cosido para se transformar em vestidos, calças ou toalhas de mesa, mas, seja qual for o feitio que assuma, o pano continuará sempre o mesmo. A sua verdadeira natureza não se altera. Qualquer boa costureira sabe disso.

         

Compartilhe com os amigos

Comente pelo Facebook!

Comente pelo Blog!

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *