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Livro: O sol na cabeça
 Autor (a): Geovani Martins
Editora: Companhia das Letras / Gênero: Contos
Páginas: 122 / Ano: 2018
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      Gente, tudo bem? Espero que sim! Hoje a resenha que trago é de um livro que foi bastante divulgado pela mídia por esses dias, já que não faz muito tempo que foi lançado. "O sol na cabeça", primeiro livro de contos de Geovani Martins, vem nos mostrar uma face da infância no subúrbio brasileiro muito dura e real. Trazendo como cenário o Rio de Janeiro e seu lado menos favorecido, Geovani nos mostra uma realidade que muitas vezes é abafada, sufocada, dilacerada pela qualidade de vida precária, pela falta de oportunidades e pela dor que se é crescer em meio à violência extrema.


      Confesso que em muitos contos senti um desconforto no estômago. Para nós é muito fácil julgar o crime como falta de vontade de quem o comete de ser e fazer diferente. Mas ali, no coração da violência no Rio de Janeiro, a realidade já está tão suja e manchada que é difícil ter expectativa de um sonho realizado em meio a fuzis e balas perdidas. 

Tinha vez que sentia até pena de ver as crianças naquela situação, mas o papo é que a gente se acostuma com cada bagulho sinistro.

      O primeiro conto, carregado de gírias, carregado de maconha e outras drogas, me fez sentir nojo primeiro do que eu lia, depois de mim mesma por sentir nojo de uma realidade que tantas pessoas vivem. Eu na minha casa limpa, na minha vida mediana, na minha família funcional, de pais que me deram todo o amor possível, não estou acostumada e nem consigo entender uma realidade baseada em uma vida mergulhada em drogas. Eu tento, tento entender e não consigo. Acho que essa dificuldade de nos colocarmos no lugar do outro é que gera tanta disparidade. Mas pra mim realmente é difícil, essa não é a minha realidade. E ao ler os contos do Giovani, senti pena, vazio, impotência. Não é escolha a infância de muitas crianças pobres que vivem no Rio, ou em qualquer outro lugar nesse mundo. E o que a gente faz para mudar isso? A gente só aponta o dedo.



      Alguns contos entretanto trazem situações mais leves, mas na sua grande maioria, Giovani quis criar um retrato doído e cru do subúrbio, o que muitas vezes não estamos acostumados a ler. Para um livro de estréia achei super bem escrito, ele consegue mudar de um conto com narrativa mais correta, para um conto totalmente carregado de gírias e jargões próprios das pessoas que vivem no subúrbio.

É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.  


      Esse livro me deixou chocada, triste, revoltada, tudo ao mesmo tempo. A gente sente vontade ao terminar de ler que muito do que foi lido seja mentira, mas não é. E isso é o que mais dói. Mas Giovani ainda consegue extrair beleza, ele inflama o leitor e ao mesmo tempo apazígua os sentimentos, mostrando um lance mais feliz, uma realidade mais terna. Mas mesmo o que ele tira de mais belo, machuca. Um livro extremamente real, que indico para quem gosta do estilo de narrativa de contos (crônicas) e que queira se aventurar em algo diferente. 

A avó de Breno sempre diz: "Lagarta queima o dedinho e come planta, mas vira borboleta. Ninguém nasce borboleta". 

Sinopse:
Em O sol na cabeça, Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI.
Em “Rolézim”, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco”, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente uma realidade. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais.
Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade.





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