Editora: Arqueiro / Gênero: Policial
Páginas: 336 / Ano: 2019
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Quando decidi ler O homem inocente, não imaginava o quão
profunda e envolvente essa obra seria. Primeiramente, nunca havia lido uma obra
de John Grisham, mas acabei
percebendo, depois de ler a biografia do autor na aba do livro, que um dos meus
filmes favoritos, Tempo de Matar, é
baseado em um livro dele (que eu nem sabia que existia!). Se vocês nunca viram
esse filme (com Sandra Bullock, Matthew McConaughey, Samuel L. Jackson, Ashley
Judd), vejam. É forte, impressionante, tocante, e a fala final do advogado
(McConaughey) é extremamente tocante. Bom, O
homem inocente já estava me impressionando, depois que descobri a relação
entre os dois livros, sabia que só podia esperar que o livro ficasse cada vez
melhor.
Este
é o primeiro livro não-ficção que li. Fiquei completamente encantada. Fui uma
criança que lia a página policial e que gostava de assistir a filmes baseados
em fatos reais (mesmo ficando com medo depois), uma adolescente que assistia
Linha Direta, programa da Globo, uma jovem adulta que assistia a séries como
Without a Trace, C.S.I., Law and Order, Criminal Minds, Os Arquivos do F.B.I.,
e hoje assisto ao canal Investigação Discovery. Sempre achei o trabalho
policial e de perícia algo impressionante. Sempre achei incrível ver como
chegavam ao culpado, como solucionavam crimes, como a ciência evoluía e
contribuía para encontrarmos a verdade. Achei importante dizer tudo isso para
justificar a minha visão sobre o livro.
A
história de Ron Williamson e Dennis Fritz é tocante e revoltante. O livro é
narrado com poucos diálogos. É realmente uma narração, um relato de tudo o que
aconteceu. John Grisham escreve maravilhosamente bem. A escrita é de uma coesão
ímpar. Os fatos são conectados, amarrados e costurados como se ele estivesse
tecendo uma rede ou mesmo o fio até chegar ao tecido, que é o trabalho final.
Mesmo quando ele insere outros casos ao longo do texto ele consegue voltar ao
ponto em que estava sem confundir o leitor, e de modo que mais adiante ele
entenda o porquê daqueles “parênteses” dentro da narrativa.
Não
é uma leitura fácil. Na verdade, em muitos momentos, mesmo querendo saber o que
aconteceria, tive que deixar a leitura de lado porque já não aguentava mais ler
tanta injustiça. É extremamente difícil saber (e ler) de tanta injustiça e
imaginar o final da história sem recorrer ao Google (esperei terminar o livro
para pesquisar os nomes dos envolvidos). Apesar de tudo isso, a leitura vale muito a pena.
Grisham
narra desde a infância de Williamson. Vemos que ele foi uma criança e um
adolescente muito mimado, egocêntrico e narcisista. Sempre conseguiu tudo o que
quis de seus pais e de suas irmãs que se sacrificavam para que Ron conseguisse
realizar seu sonho de ser um jogador de baseball profissional. Sonho que foi
interrompido por uma grave lesão nos ombros que nunca se curou. Com o término
da carreira, o uso de bebidas alcoólicas e de drogas ilícitas, que teve início
ainda na adolescência, se intensificou, e então vieram os diagnósticos de
transtorno bipolar e de esquizofrenia. Se na atualidade pessoas com esses
transtornos já são incompreendidos, imaginem como era há mais de trinta anos.
Quando
Debra Sue Carter foi brutalmente estuprada e assassinada, a cidade de Ada ficou
em choque e com sede de justiça. A pressão para uma prisão era grande. Então,
Denice Haraway, uma jovem casada havia menos de um ano, some misteriosamente de
seu local de trabalho. O tempo faz com que todos presumam que ela está morta, e
essa nova morte em Ada faz a pressão por resultados e prisões aumentar.
O
caso Haraway é chocante e absurdo. A conduta da polícia e da promotoria é não
somente ridícula, mas criminosa. A investigação do caso Carter segue a mesma
linha do caso Haraway, e Ron Williamson e Dennis Fritz são vítimas da polícia e
do Estado. O que vemos é uma pessoa que tem distúrbios ser escolhida como
suspeito apesar de não haver uma prova sequer de seu envolvimento, e outra,
Fritz, um professor viúvo que cria sua filha com a ajuda de sua mãe, ser
escolhido como suspeito por ser amigo de Williamson.
Na
aba do livro está escrito: Se você é a
favor da pena de morte, este livro o deixará perturbado. Se acredita que o
sistema criminal é justo, ele o deixará furioso, e esses dois adjetivos,
furioso e perturbado, descrevem muito bem como eu me senti lendo o livro.
Voltando ao meu histórico de gostar de séries criminais, de ler a página
policial e tudo mais (isso sem mencionar as várias séries de livros policiais
que tenho), estou acostumada a assistir a programas sobre casos reais em que os
detetives são sempre éticos, a promotoria faz um trabalho impecável e o cruel
assassino tem seu merecido castigo. Em O
homem inocente, John Grisham nos apresenta talvez o lado mais cruel do
sistema, o lado mais arrogante e deturbado da polícia que quer apenas o rótulo
de ter encontrado o culpado – quer ele seja realmente culpado ou não -, o lado
mais sujo de detetives e carcereiros, de promotores e de defensores públicos. O
lado preguiçoso da justiça, o lado descuidado de investigações, e o ponto de
vista daqueles que foram condenados e de seus familiares. Não só isso, ele nos
faz deixar nossas ideias pré-concebidas sobre perícia, investigação e, acima de
tudo, sobre justiça.
O homem inocente é uma obra para ser
lida de corações e mentes abertos, para ser refletida e, por que não, para
rever conceitos. A premissa de que todos são inocentes até que se prove o
contrário chega a ser piada e inexistente nos casos apresentados. Eu refleti
muito durante a minha leitura, questionei-me muito sobre a pena de morte, sobre
a dor dos familiares que são levados a acreditar que a justiça havia sido feita
para o seu ente querido apenas para depois descobrirem que não, e que iriam
sofrer toda a angústia da espera novamente, pensei na dor do injustiçado, revi
muitas de minhas ideias, sofri com os personagens, chorei com eles, senti uma
adrenalina incrível com a expectativa de saber como tudo acabaria. Méritos do
autor, que foi brilhante na construção do livro. Também posso dizer que aprendi
muito com o livro. Aprendi sobre provas periciais que eu antes considerava
importantes e descobri que não são sem um pouco confiáveis, aprendi sobre o
medo, sobre manipulação, sobre preconceito e muitas outras coisas.
Sem
sombra de dúvidas, recomendo a leitura desse livro. Ele aguçou a minha
curiosidade, levou-me a pensar e a querer aprender mais. Quero ler mais livros
de não ficção. Foi uma experiência diferente.
Vale lembrar
também que O homem inocente virou
série documental na Netflix sob o nome Inocente
– Uma história real de crime e injustiça.
“Os policiais também interrogaram um homem chamado Dennis Fritz, cuja única ligação possível com a investigação do assassinato era a amizade com Ron Williamson. [...] Nunca tinha levado Ron Williamson de carro a Coachlight. Não conhecia Debbie Carter, não tinha certeza se já a vira antes e não fazia ideia de onde morava. Mas como agora os investigadores estavam atrás de Ron Williamson, e aparentemente trabalhavam com a teoria banal e previsível de que havia dois assassinos, precisavam de mais um suspeito. Fritz foi o escolhido”.
“... a impressão palmar na amostra de drywall não pertencia a Debbie Carter, Dennis Fritz nem a Ron Wiliiamson. Essa notícia deveria ser boa para a polícia. Bastaria descobrir de quem era essa impressão e eles teriam o assassino. Em vez disso, os policiais informaram discretamente à família Carter que Ron Williamson era seu principal suspeito”.
Sinopse:
O LIVRO QUE INSPIROU A SÉRIE DOCUMENTAL DA NETFLIX INOCENTE. UMA HISTÓRIA REAL DE CRIME E INJUSTIÇA.
Com mais de 40 livros publicados e 19 adaptados para o cinema, John Grisham é um dos autores mais lidos dos Estados Unidos.
Em 1971, aos 18 anos, Ron Williamson tinha uma carreira promissora como atleta. Acabara de assinar contrato com um time grande de beisebol e de se despedir de Ada, sua cidade natal, para ir em busca do sucesso. Seis anos depois, estava de volta com os sonhos destruídos por um braço lesionado e o vício em bebidas e drogas. Foi morar com a mãe e passava vinte horas por dia dormindo no sofá.
Em 1982, uma garçonete de 21 anos chamada Debra Sue Carter foi estuprada e assassinada brutalmente em Ada. Por cinco anos o crime ficou sem solução, até que uma frágil evidência apontou a investigação na direção de Ron.
A partir daí o herói fracassado foi perseguido, acusado, julgado e condenado à morte. O processo, coalhado de testemunhas mentirosas e provas corrompidas, não só acabou de arruinar a vida já despedaçada de um homem, como permitiu que o verdadeiro assassino ficasse impune.
Com uma pesquisa impecável e uma narrativa arrebatadora, O homem inocente é um livro que ninguém pode se dar ao luxo de não ler.
Com mais de 40 livros publicados e 19 adaptados para o cinema, John Grisham é um dos autores mais lidos dos Estados Unidos.
Em 1971, aos 18 anos, Ron Williamson tinha uma carreira promissora como atleta. Acabara de assinar contrato com um time grande de beisebol e de se despedir de Ada, sua cidade natal, para ir em busca do sucesso. Seis anos depois, estava de volta com os sonhos destruídos por um braço lesionado e o vício em bebidas e drogas. Foi morar com a mãe e passava vinte horas por dia dormindo no sofá.
Em 1982, uma garçonete de 21 anos chamada Debra Sue Carter foi estuprada e assassinada brutalmente em Ada. Por cinco anos o crime ficou sem solução, até que uma frágil evidência apontou a investigação na direção de Ron.
A partir daí o herói fracassado foi perseguido, acusado, julgado e condenado à morte. O processo, coalhado de testemunhas mentirosas e provas corrompidas, não só acabou de arruinar a vida já despedaçada de um homem, como permitiu que o verdadeiro assassino ficasse impune.
Com uma pesquisa impecável e uma narrativa arrebatadora, O homem inocente é um livro que ninguém pode se dar ao luxo de não ler.